Saturday, May 26, 2007

REVIEW - DOGVILLE



A trilogia de Lars Von Trier contra as bases da sociedade americana tem o seu início com Dogville, um filme de impacto profundo e que se constitue em mais um prova de um cinema feito de forma artisticamente inovadora em sua narrativa. Potencialmente polêmico em sua essência, o diretor sueco utiliza atrizes ícones de Hollywood - Nicole Kidman e a lendária Lauren Bacall -aumentando o sentimento de chamada irônica para uma história que vai de encontro exatamente com a noção hipócrita que a América tem sobre a América.
A história se passa numa comunidade esquecida aos pés das Montanhas Rochocas, no Meio-Oeste americano chamada Dogville. Grace (Nicole Kidman) a chega a este vilarejo, fugindo de gângsteres. Ela é recepcionada por Tom (Paul Bettany) morador local e aspirante a líder comunitário que passa a maior parte de seu tempo exercitando a filosofia da ética moral. Após ser apresentada aos moradores de Dogville por Tom (que se apaixona pela ruiva e torna-se seu maior patrocinador para que ela se estabeleca no local), os moradores estabelecem o prazo de duas semanas para que ela se mostre uma pessoa confiável a viver entre eles, já que até aquele momento ela é uma mulher cuja índole é desconhecida. Aceitando cumprir este 'estágio probatório', Grace tenta se inserir na sociedade e cativar a todos, sendo prestativa em tarefas diversas que se estendem a trabalhar na lavoura a fazer leituras para cego. A forasteira, contudo, percebe com o passar do tempo que aquela comunidade que a submeteu a testes de aceitação, para poder nela conviver, não é tão ingênua e pura como imaginara. Só neste momento que ela se dará conta que terá que pagar um preço muito caro para permancer entre eles e que acaba mudando todo o seu conceito daqueles indivíduos.
Um dos pontos altos de Dogville reside no fato que todo o filme se dá num palco - que poderia ser o de um teatro, mas com interpretações dirigidas para a linguagem do cinema - cujo cenário é quase que totalmente criado pela imaginação. O faz de conta é que guia a atuação das cenas, ao mesmo tempo que nos mostra de forma concomitante a intimidade do interior das casas e do comércio de uma vila interiorana ilusória, onde não há uma parede sequer. Se desnuda aqui, os limites que a reserva na vida real não nos deixa ver.
Em Dogville a inexistência de barreiras físicas, comuns para garantir a individualidade, tem efeito apenas no expectador já que esta "transparência" só é vista pelos olhos do público como se o roteiro nos desse uma radiografia, do ponto de vista do diretor, a essência corrompida e maculada de uma sociedade que, de uma outra forma, deveria ser íntegra e livre de vícios. A denotação de Lars Von Trier afirmando a existência de uma postura de dominação, subserviência e oportunismo despachado pelos americanos aos estrangeiros já tinha sido, dentro de um outro contexto, explorado anteriormente no angustiante Dançando No Escuro. A composição faz utilização farta da câmera manual e intranqüila, típica de Lars Von Trier, adiciona uma forte tensão e expectativa a história. Os closes utilizados nas cenas sugerem uma desconfiança e dão uma sensação de desconforto constante aos personagens da trama. Dogville é um exercício de como fazer um cinema barato e eficaz com extrema qualidade e força criativa.
Notas:
Apesar de Dogville ser situado nos Estados Unidos, todas as filmagens ocorreram em estúdio na Suécia.
O orçamento de Dogville foi de US$ 9 milhões.
Trata-se do 1º filme de uma trilogia do diretor Lars Von Trier sobre os Estados Unidos. Os demais filmes são Manderlay (2005) e Washington (2007).
A famosa cena inicial, onde Dogville é vista de cima foi de fato gerado por um computador que organizou 156 cenas diferentes para a composição. O teto do estúdio não era tão alto para que pudesse ser feita sequer uma tomada naquela altura.
Dizem que Nicole Kidman se comunicou muito pouco com o restante da equipe, fora os assuntos necessários. Contudo ela convidou a equipe para beber champanhe e caviar e trouxe Chefs Mexicanos para conzinhar para todos.
Quando Nicole Kidman foi para a Suécia fazer o filme foi a primeira vez em quinze anos que ela pegava um vôo comercial.
Originalmente Lars Von Trier queria Nicole Kidman de quatro na cena de estupro, mas devido ao joelho machucado da atriz a cena foi mudada.
Paul Bettany não queria o papel de Tom Edison pois as filmagens estavam ocorrendo na Suécia. Foi quando o ator Stellan Skarsgård disse que as filmagens com Lars Von Trier erão tão divertidas que ele iria perder algo de extrarordinário caso ele recusasse o papel. Após metade das filmagens terem sido concluidas Bettany perguntou a Skarsgård quando a diversão iria começar. Skarsgård respondeu que tinha mentido e que ele tinha feito isso para que Bettany não recusasse o papel e tivesse a chance de trabalhar com Lars Von Trier, algo maravilhoso e que Bettany só saberia depois que já estivesse nas filmagens papel.
Título Original: Dogville.

Gênero: Drama.

Ano: 2002.

País de Origem: EUA / Dinamarca.

Duração: 178 min.

Língua: Inglês.

Cor: Colorido.

Diretor: Lars Von Trier.

Elenco: Nicolle Kidman, Lauren Bacall, Paul Bettany, Harriet Andersson, Blair Brown, James Caan, Patricia Clarkson, Jeremy Davies, Ben Gazzara, Thom Hoffman, John Hurt (narrador).

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