REVIEW - ...E O VENTO LEVOU
Tarefa impossível definir a importância de uma produção cinematográfica. Seu valor pode ser técnico, quando se avalia a forma como desenvolve o seu enredo, como o diretor passa informação explorando ângulos de câmeras, como se usam determinados tipos de lentes e imagens, como se aborda um determinado assunto, etc. Outros filmes, no entanto, embora não estabeleçam uma revolução na linguagem via celulóide, possuem uma força carismática tamanha que acabam entranto no hall da fama dos filmes inesquecíveis. É assim com a superprodução ...E O Vento Levou. Embora tenha custado milhões de dólares na época e, atualizando os valores, continue sendo um dos mais caros até hojé, a forma como se conta a estória continuou sendo a forma padrão para a época. O motivo para fazer com que o filme se tranformasse num dos mais lembrados, citados, cultuados foi o simples fato de ter sido criado para agradar a todos: intelectuais ou não, donas de casa, trabalhadores, ricos e pobres. O sucesso que atingiu foi resultado do alcance irrestrito que obteve frente ao povo. A simplicidade do seu enredo e a forma direta e objetiva como trata de temas concernetes ao amor, ao ódio, como se fosse uma folhetim novelesco foi a chave para a identificação do público com os personagens e situações que se desenvolvem nesse dramalhão de luxo.
Tendo como pano de fundo a Guerra de Secessão dos Estados Unidos, que quase dividiu o país em dois nos meados do século XIX, somos levados a conhecer a jovem e prepotente Scarlett O'Hara (Vivien Leigh). Filha de um influente produtor de algodão, ela esnoba beleza e exercita sua vaidade seduzindo os cavalheiros da região despertando, com isso, a hostilidade das demais moças que se sentem ameaçadas com seu comportamento "imoral". Através dela e de seus sentimentos interagimos na sociedade conservadora, escravocrata e arcaica dos sul dos Estados Unidos.
Acabamos por ter um desfile dos principais caracteres da personalidades : Burt Rhett (Clark Gable), o cavalheiro canalha; Melanie (Olivia de Havilland), a quase santa; Ashley (Leslie Howard), o covarde indeciso e a própria Scarlett que detém um pouco de cada qualidade.
O amor-capricho mal resolvido com Ashley será sua maior obsessão durante o filme. Ela não se conforma em tê-lo perdido para Melanie e tentará conquistá-lo mesmo já comprometido. Enfrentando todo tipo de adversidades será esse pseudo-amor, a força matriz que a levará tomar decisões que modificarão profundamente sua vida e a das pessoas que estão próximas. Até as investidas do galante Rhett Butler se mostraram inócuas aos sentimentos da Srtª O'Hara. Dentro de um cenário de sofrimento e batalha causado pela guerra, Scarlett enfrentará os momentos mais difíceis. Terá que reerguer Tara (a propriedade de seu pai), destruida pelos ianques (americanos do norte) durante a guerra, para que possa sustentar a família novamente. Essa mudança em sua vida acabarão por transformá-la em uma nova mulher, mas que não serão capaz de modificar sua essência e seus desejos.
Notas:
Quando Gary Cooper recusou o papel de Rhett Butler, o fez de forma definitiva. Registra-se que ele disse : "...E o Vento Levou vai ser o maior fracasso da história de Hollywood" e "Estou feliz que será Clark Gable quem cairá com a cara no chão e não eu".
A frase de Clark Gable no filme, "Francamente minha querida, eu não dou a mínima" foi eleita a número um pelo Instituto Americano de Cinema.
1.400 atrizes foram entrevistadas para o papel de Scarlet O'Hara e 400 foram ouvidas.
Algumas das mais famosas atrizes que foram cotadas para o papel de Scarlet: Joan Crawford, Talulah Bankhead, Olivia de Havilland, Lucille Ball, Bette Davis, Claudette Colbert, Jean Arthur, Paulette Goddard, Susan Hayward, Katherine Hepburn, Carole Lombard, Norma Shearer, Barbara Stanwyck, Margaret Sulluvan. Bankhead, natural do sul (Alabama), estava à frente das demais concorrentes, entretanto, devido a sua atribulada vida pessoal fez com que os produtores ficassem com medo de contratá-la.
Um mês depois da publicação do livro David O. Selznick comprou os seus direitos autorais para o cinema pelo valor de 50 mil dólares, maior soma paga pela primeira obra lançada de um autor. Selznick pagou-lhe mais 50 mil dólares, como um bônus, quando ele dissolveu sua produtora em 1942.
Uma das lendas que mais duram em relação ao filme é que Vivien Leigh foi o achado de última hora quando já tinha começado as filmagens (incêndio de Atlanta). A verdade é que Selznick planejou uma campanha de divulgação do filme gratuita com o slogan, "Quem irá interpretar a Scarlett ?" mantendo a participação de Leigh em segredo até o último minuto. Dentro de várias memórias de Selznick tem uma de 1937 que se refere a Leigh já segura no papel. Ela e Laurence Olivier (que começaria a filmar O Morro dos Ventos Uivantes) chegaram a Califórnia vindos da Inglaterra antes da primeira cena ser filmada (incêndio de Atlanta). Selznick tinha repórteres presentes quando seu irmão chegou com Leigh e disse que ele tinha a Scarlett que Selznick estava procurando. A filmagem parou e registra-se que David, posteriormente, disse que quando viu as chamas do incêndio de Atlanta refletindo sobre o rosto de Vivien, soube que ela era a Scarlett perfeita. Inacreditavelemente, anos após o lançamento do filme, muitos ainda acreditam que Selznick foi estúpido o bastante para começar a filmagem (com dinheiro vindo de seu estúdio e não MGM), o filme mais caro da história (até aquela data), sem ter a certeza da atriz principal que está em praticamente todas as cenas do filme. O esquema funcionou e as pessoas engoliram.
Nunca houve cortes no filme. Ele vem sido exibido do mesmo jeito que foi em sua estréia.
O filme teve três diretores: George Cukor, que foi o primeiro e dirigiu apenas 33 minutos do total; Victor Flemming, que foi o segundo mas ficou apenas nove semanas e se afastou por motivos de exaustão já que tinha acabado de filmar O Mágico de Oz; Sam Wood, o último que ficou um período enquanto Flemming se recuperava.
Nada indica que houve alguma participação de Clark Gable na demissão de Cukor do filme. O que houve, segundo cartas de Cukor a amigos, foram divergências entre ele e David O. Selznick em relação ao script e produção do filme.
Poucos do elenco gostavam da personagem que interpretavam: Clark Gable só aceitou fazer o papel porque lhe foi permitido ter tempo para organizar o seu casamento com Carole Lombard; Randy Brooks é do tipo rústico e teve que interpretar uma personagem refinada, Butterfly McQueen era uma pessoa muito tímida; Leslie Howard se sentia muito velho para interpretar o papel de Ashley.
Com Vivien Leigh já segura no papel desde o início de 1937 (secretamente), nem Bette Davis nem qualquer outra atriz teve chance no papel mesmo que milhares de dólares tivessem sido gastos no trabalho de "seleção" da Scarlett. Um investimento considerado bem feito já que gerou publicidade para o filme.
Do pouco material utilizado no filme que não saiu do livro, 80% foi escrito por David O. Selznick, segundo informação do próprio em um memorando. Ele foi ajudado por Jo Swerling e Sidney Howard.
A premiére do filme ocorreu em Atlanta e diz-se ter sido a primeira vez que David O. Selznick visitou o Sul.
Hattie McDaniel foi advertida a não comparecer à premiére devido as leis de segregação racial da Geórgia. Sendo assim, para não por o diretor David O. Selznick numa posição desconfortável de ter que lutar para que ela tivesse o direito de comparecer ao evento, ela escreveu para ele dizendo que estaria indisponível no dia.
Margaret Mitchell, autora do livro, recebeu um pedido do produtor David O. Selznick para fazer qualquer tipo de crítica sobre o modo como estava sendo feita a produção. A senhora Mitchell fez uma crítica a arquitetura da fachada de Tara (que foi ignorado). Desde então, ela recusou-se a fazer qualquer tipo de comentário sobre o filme, tivesse sido antes, durante ou depois de produzido.
Uma das promessas para o papel de Scarlett era Adelle Longmire, entretanto, na época ela tinha dezessete anos e seus pais não permitiram que ela viajasse para Nova Iorque para fazer os testes. Ela só veio aparecer no cinema anos mais tarde.
Em março de 1939 saiu um artigo no jornal que diz que o produtor David O. Selznick pretendia produzir ...E o Vento Levou como uma série tendo em vista a novela ser muito longa e complexa para ser feita com sucesso em apenas um filme.
Para a cena em que Scarlett foge do incêndio de Atlanta era necessário encontrar um cavalo para o papel de Woebegone. Ele teria de ter aparencência esquálida para dar impressão dele estar exaurido e à beira de um colapso. O candidato perfeito foi encontrado, mas semanas depois, quando o cavalo foi trazido para o estudio, ele aumentou de peso e suas costelas não estavam mais visíveis. Como não havia tempo para achar um substituto o departamento de maquiagem pintou sombras escuras na costela para dar a impressão de desnutrição.
Na cena em que Scarlett sai à procura do Dr. Meade, passando por centenas de soldados da confederação feridos, para cortar custos e se ajustar a uma regra do sindicato que estabelece uma percentagem de utilização de extras num filme, foram utilizados 800 bonecos espalhados entre os 800 figurantes.
Na cena em que Rhett põe bebida no copo de Mummy comemorando o nascimento de seu filho, por brincadeira, durante uma tomada, Clark Gable despejou álcool na garrafa ao invés do tradicional chá sem que Hattie MacDaniel soubesse até quando ela tomou um gole.
A primeira cena a ser filmada foi a do incêndio de Atlanta em 10 de dezembro de 1938. Nada poderia sair errado durante as filmagens, pois o menor erro estragaria todo o filme. O que foi queimado naquela cena foram cenários e sets usados em outros filmes como o grande portão do filme King Kong. Foram 113 minutos de filmagem com o custo total de 25 mil dólares. O fogo foi tão intenso que as pessoas desavisadas, de Culver City, congestionaram as linhas telefônicas achando que os estúdios da MGM estavam pegando fogo.
A primeira montagem do filme, em julho de 1939, tinha 48 minutos a mais do que a montagem final.
Todas as sete câmeras em technicolour existentes em Hollywood foram utilizadas para a filmagem do incêndio em Atlanta. As chamas alcançavam a altura de 152 m erguendo-se de uma área de 20 hectares. Dez equipamentos de incêndio do corpo de bombeiros de Los Angeles, 50 integrantes da brigada de incêndio do estúdio e 200 funcionários do estúdio permaneceram em prontidão caso o fogo saísse fora de controle. Três galões de 5.000 mil litros de água foram utilizados para amenizar as chamas depois de encerrada as filmagens.
As roupas das mulheres no filme foram todas feitas com anáguas, embora que se elas tivessem esquecido de usar ninguém teria sentido a diferença.
A cena em que Scarlett recolhe um pouco de terra nas mãos e brada a frase "tendo Deus como testemunha", o som de ânsia de vômito foi feito por Olivia de Havilland já que Vivien não conseguiu produzir um som convincente.
Vivien Leigh trabalhou por 125 dias e recebeu 25 mil dólares. Clark Gable trabalhou 71 dias e recebeu 120 mil dólares.
...E o Vento Levou foi escrito entre 1926 e 1929.
Em 1939, o Código de Produção de Hollywood regulava o que poderia ser ou não mostrado ou dito nas telas. Para que a frase final de Rhett Butler, "eu não ligo a mínima" permanecesse inalterada, David O. Selznick preferiu pagar 5 mil dólares de multa a ter que substituí-la. Esta frase acabou sendo eleita a número um pelo Instituto Americano de Cinema.
Outra frase que se destacou no filme ganhando a 31ª posição no AFI foi "Afinal de contas, amanhã é um outro dia" dita por Scarlett.
Clark Gable estava tão exausto, devido a exigência do papel, que chorou no filme (durante a cena em que Melanie tenta confortar Rhett pela má conduta de Scarlett) quase desistindo. Olivia de Havilland o convenceu a ficar.
O roteiro final do filme ficou pronto em 24 de janeiro de 1939 pela bagatela de 25 mil dólares.
Hattie MacDaniel se tornou a primeira mulher negra a ser indicada e ter ganho o Oscar (Melhor Atriz Coadjuvante).
Priscilla Lane foi cogitada para o papel de Melanie Wilkes.
Mickey Kuhn que foi seu sobrinho Beau, filho de Melanie em ...E o Vento Levou, voltou a trabalhar com Vivien em 1951 em Um Bonde Chamado Desejo. Ele fazia o papel do marinheiro que a ajudava no bonde. Não ficou registrado se eles se reconheceram depois de 12 anos.
Em valores atualizados ..E o Vento Levou é a maior bilheteria de todos os tempos superando Guerra nas Estrelas. Ele arrecadou 3.785.107.801 (bilhões) de dólares.
Se o total de público for calculado, este é o filme mais popular dos Estados Unidos.
Mesmo tendo a vantagem de ter sido lançado várias vezes no cinema, o incrível é que existiam menos da metade da população de americanos atual quando foi lançado se comparado a Titanic (1997), Guerra nas Estrelas (1977) e Tubarão (1975).
Dos quatro atores principais; Gable, Leigh, Howard morreram jovens. Olivia de Havilland é a única ainda viva e ironicamente só ela morre no filme.
Vivien Leigh disse não ter gostando das cenas em que beijava Clark Gable devido ao seu mau-hálito.
David O. Selznick teve que ceder os direitos de distribuição a MGM para poder contratar Clark Gable e para receber uma ajuda de 1.250.000 (milhão) dólares em financiamento.
Os sets da casa de Tara foram construídos sem o teto, posteriormente eles foram acrescentados na forma de pranchas pintadas.
O roteirista Sidney Howard foi a primeira pessoa a receber um Oscar póstumo. Ele sofreu um acidente e faleceu ainda durante as filmagens.
Billy Burk (a bruxa boa de O Mágico de Oz) foi considerada para o papel da tia Pittypatt Hamilton, mas os produtores a consideraram muito nova para o papel. Billy estava com 54 anos na época.
Quando Scarlett recebe a carta informando da morte de seu marido Charles, observamos que ela é assinada por Wade Hampton. Wade Hampton é o nome do filho que ela tem com Charles. Segundo o livro, o nome do filho deles deve ser o nome do comandante do primeiro marido de Scarlett. Por isso o detalhe da assinatura na carta.
Barbara O'Neal tinha apenas 28 anos quando interpretou o papel de Ellen O'Hara (mãe de Scarlett). Vivien Leigh tinha 25 quando apareceu como Scarlett, que tinha apenas 16 anos no começo do filme.
O proeminente palestrante religioso Martin Luther King foi convidado a participar do baile da premiére do filme. Outros líderes pediram a ele que boicotasse o evento tendo em vista que, por motivos de segregação racial, os atores negros do filme não foram convidados. Martin Luther King, pensador vanguardista, compareceu e levou consigo Martin Luther King Jr.
Com quase 4 horas de duração é o filme mais longo a ganhar o Oscar.
Votado como o 18º filme mais importante de todos os tempos pela revista americana Entertainment Weekly.
Votado como o 4º filme mais importante pelo Instituto Americano de Cinema.
Antes do elenco ser solucionado foi perguntado a Margaret Mitchel quem ela achava que devia interpretar Rhett Butler e ela respondeu "Groucho Marx" (famoso comediante vindo do cinema mudo).
Para aumentar a publicidade, foi feita uma votação perguntando aos fãs quem eles desejavam para o papel de Scarlett O'Hara. Centenas de urnas recolheram os votos. Vivien Leigh recebeu apenas dois votos.
O filme mais visto na Grã-Bretanha, ocupando o primeiro lugar em quantidade de lugares vendidos. Dois terços da população foram ao cinema para conferir a produção.
Terceiro filme com mais indicações ao Oscar.
Título original: Gone With The Wind.
Gênero: Drama/Romance/Guerra.
Ano: 1939.
País de origem: USA.
Duração: 238 min.
Língua: Inglês.
Cor: Cores (Technicolor).
Diretor: Victor Flemming.
Elenco: Vivien Leigh, Clark Gable, Olivia de Havilland, Leslie Howard, Hattie MacDaniel, Butterfly McQueen, Barbara O'Neal, Evelyn Keys.
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