Wednesday, May 31, 2006

REVIEW - O SILÊNCIO DOS INOCENTES




Na cerimônia do Oscar realizada em 1992 presenciei uma das maiores supresas do cinema. Fato raríssimo e que ocorrera apenas em 1933 em Aconteceu Naquela Noite e 1979 em Um Estranho no Ninho. Estas películas arrebataram os cinco principais prêmios da Academia: filme, direção, ator, atriz e roteiro. O Silêncio dos Inocentes repetiu a proeza e se firmou como a produção mais completa de 1991 para espanto de muita gente. A estória do célebre serial-killer não estava entre as favoritas na época e tinha sido exibida no começo do ano nos Estados Unidos, enquanto as outras (JFK, O Príncipe das Marés, A Bela e a Fera e Bugsy) tiveram suas estréias apenas no final do ano, exatamente para competir pela estatueta dourada.
Tive a oportunidade de assistir a esse clássico moderno logo em sua estréia nos cinemas e pensei: esse filme vai ganhar o Oscar! De forma alguma, para um filme ser bom, tenha ele que ser reconhecido pela indústria do cinema americano. As injustiças que a tal premiação concede anualmente são sempre gritantes. Quando, no entanto, se trata de reconhecer algo que se destaca pela sua excelência, não há como deixar de aplaudir e reconhecer a superioridade daquele trabalho frente a outros.
O thriller psicológico é dirigido por Jonathan Demme com maestria absoluta. Os enquadramentos conseguem extrair o máximo de tensão de cada cena. Na verdade ele insere o expectador na trama sempre que se utiliza do recurso da estética em que faz com que a personagem se defronte com a câmera como sendo ela seu opositor no diálogo, compondo um jogo de imagens e aprofundando a imersão do público nas cenas. Tal narrativa faz brotar uma responsabilidade e um intimismo perante as ações que que dominam a platéia do início ao fim. O roteiro é algo que, sem dúvida alguma, facilitou tremendamente o trabalho do mestre Demme. Criar uma estória e roteirizá-la para o cinema é muito mais fácil do que desenvolver um roteiro de um material já publicado, no caso um livro. A transformação do best-seller para o cinema foi genial.
O elenco principal encabeçado pelo magistral Anthony Hopkins, cuja a interpretação do Dr. Hannibal impressiona e cuja personagem já faz parte da galeria dos grandes vilões do cinema, foi outro tiro certeiro dos produtores. Parece que os atores/atrizes ensairam até a exaustão pois a química que emana entre eles é fabulosa.
Poderia ter sido apenas mais um filme policial, mas O Silêncio dos Inocentes mesclou tantos gêneros juntos que segmentar é quase impossível. Tem-se aqui a estória de Clarice Starling (Jodie Foster), aspirante a policial do FBI que encontra-se em treinamento para ingressar na instituição. Formada em psicologia, ela é convidada a extrair informações de um perigoso psicopata conhecido por matar e comer partes dos corpos de suas vítimas, Dr. Hannibal (Anthony Hopkins). Logo ela perceberá que o objetivo não é apenas coletar dados sobre o pensamento doentio do ex-psiquiatra canibal, mas sim descobrir pistas que levem a deter o mais novo maníaco que se encontra a solta esfolando mulheres, conhecido como Buffalo Bill. Para ter a ajuda do Dr. Hannibal, em identificar o louco assassino, ela terá que se submeter um jogo de troca de informações (quo pro quo) sugerido por ele, onde cada detalhe sobre o caso corresponderá a uma informação pessoal da vida da pretensa agente. O encanto despertado por ela poderá ajudá-la não apenas a achar o matador de mulheres, mas identificar elementos em sua vida que ainda lhe pertubam. É inevitável o fascínio que ambos sentem um pelo outro mesmo estando em pólos diferentes da moral. A paixão entre policial e prisioneiro em estado platônico é latente e se constitui um dos grandes charmes do filme.
O tempo está contra Clarice e quanto maior a demora em se identificar o assassino em série, novas vítimas podem ser feitas. Como devolver o silêncio das ovelhas ? (que é a tradução do título original em inglês).
O Silêncio dos Inocentes é, sem dúvida, um dos melhores filmes de todos os tempos.
Notas:
Gene Hackman comprou os direitos de O Silêncio dos Inocentes e estava planejando dirigir o filme assim como atuar no papel de Jack Crawford, mas após assistir a um clipe de Mississipi em Chamas, no qual atuou, na cerimônia do Oscar em 1989, ele decidiu não mais fazer filmes violentos. Assumindo Jonathan Demme como diretor ele primeiro ofereceu o papel da agente a Michelle Pfeiffer e depois a Meg Ryan.
Michael Keaton foi cogitado para o papel de Jack Crawford.
John Hurt, Louis Gosset Jr., Robert Duvall, Jeremy Irons, Jack Nicholson, Robert DeNiro foram cogitados para o papel de Hannibal Lecter.
Dino de Laurentis, que tinha produzido Manhunter em 1986, desistiu de produzir O Silêncio dos Inocentes devido ao fracasso de Manhunter. Ele cedeu os direitos à Orion Pictures gratuitamente.
As largatas de mariposa no casulo utilizadas durante o filme tiveram tratamento de celebridade. Viajaram em primeira classe para o set de filmagem (num transporte especial), ficaram numa sala VIP (ambientes com controle de umidade e aquecimento) e foram cuidadosamente vestidas sob medida (uma proteção que revestia elas com a inscrição da caveira de material perigoso desenhada).
Anthony Hopkins descreve sua voz construída para Hannibal Lecter como uma mistura entre Katherine Hepburn e Truman Capote.
Após a troca de tiros com Gump, Clarice queima parcialmente seu rosto com a pólvora do revólver, resultado de uma "near-miss". Esse tipo de ferimento se chama tatuagem de minerador, uma referência inteligente ao passado da personagem.
A personagem de Scott Glenn é baseado na pessoa real do detetive John Douglas que ficou lhe ensinando a construir o papel por um tempo.
A borboleta no poster do filme parece ter um crânio humano no centro. Entretanto chegando mais perto podemos observar que este crânio se transforma em pelo menos três mulheres nuas (claramente sete em alguns posters do filme) que é muito similar a uma fotografia de Phillipe Halsman de 1951 inspirada, por um desenho de Salvador Dalí pintado a guache. Sob um olhar mais atento ainda podemos observar que as asas da mariposa aparentam ter uma nova recolorização do Dragão Vermelho de William Blake que está com vincos e dobrado por estar nas asas.
Buffalo Bill é a combinação de três serial-killers reais: Ed Gein, que tirava as peles de suas vítimas; Ted Bundy, que usava gesso nas mão como isca para fazer as mulheres entrarem em sua van e Gary Heidnick, que mantinha as mulheres sequestradas em um buraco no seu porão. Gein provou-se estar ligado a duas mortes e suspeito de outras duas. A maioria de seu material era obtida não através de assassinatos mas violando as sepulturas. Mas para a imaginação popular ele continua sendo um assassino com várias vítimas.
Uma revista 'Bon Apetit' é vista na cela temporária de Hannibal Lecter.
Thomas Harris nunca quis assistir ao filme temendo que pudesse influenciar a sua forma de escrever.
Todas as cenas na cela original de Hannibal aparecem reflexos dele ou de Clarice dependendo do ponto de vista da câmera.
Em seu primeiro encontro com Clarice Starling, Hannibal descreve o desenho em sua cela como sendo 'o duomo visto de belvedere' em Florença, Itália. Starling, mais tarde, irá descobrir que o assassino mora em Belvedere, Ohio. Lecter, assim, já tinha dito o endereço do assassino logo no começo do filme.
Michael Keaton, Mickey Rourke e Kenneth Branagh foram cogitados para o papel de Jack Crawford.
Quando Jonatham Demme dirigiu a primeira cena de encontro entre Hannibal e Clarice, Hopkins disse que o diretor havia lhe pedido para ele olhar diretamente para a câmera à medida que ela ia se aproximando da sua linha de visão. Ele achou que desta forma Lecter poderia ser demonstrado como o que sabe tudo.
Broke Smith aumentou quase 12 kg para fazer a personagem de Catherine Martin. Ela e Ted Levine se tornaram tão íntimos durante as filmagens que Jodie Foster se referia a ela como Patty Hearst ( se referindo a mulher que na vida real se tornou próxima de seu seqüestrador).
Anthony Hopkins inventou o som como se experimentasse algo gostoso, fazendo um chiado nos lábios, logo no primeira cena com Clarice, deixando claro para ela porque era chamado de O Canibal. Esta cena não estava no script mas todos no estúdio adoraram menos o diretor que ficou chateado por um tempo, mas depois negou sua irritação.
A personagem Hannibal Lecter foi inspirado no serial killer Albert Fish.
A equipe estava pronta para viajar para Montana para compor as imagens da fuga de Clarice quando criança. Mas após a filmagen do diálogo entre Jodie e Anthony, ele achou que seria desnecessário fazer a tomada, interrompendo a performance e desistiu da cena.
Jodie Foster, Scott Glen, Jonathan Demme e alguns componentes do elenco e equipe fizeram pesquisas e tiveram treinamento no FBI em Quantico na Virgínia. Eles estudaram sobre armas de fogo, assistiram aulas junto com os policiais e aprenderam com agentes que estudam perfis criminais mais sobre o assunto.
O filme originalmente seria lançado no Outono de 1990 mas como a Orion estava dedicada a manter esforços para pôr na corrida do Oscar o filme Dança Com Lobos, cancelou a estréia do filme para janeiro de 1991.
Em preparação para o seu papel Anthony Hopkins estudou arquivos de serial killers. Ele também visitou prisões e estudou assassinos condenados ele também esteve presente em alguns julgamentos concernentes a serial killers.
Com uma performance menor que 16 minutos, Anthony Hopkins se tornou o ator que obteve o Oscar de ator principal com o menor tempo de atuação.
O roteirista Ted Tally escreveu o roteiro para o filme e sugeriu o nome de Jodie Foster para o papel de Clarice Starling. Jodie estava já há muito tempo investido para interpretar o papel da agente. Jonathan Demme não achava que Jodie fosse a melhor escolha e chamou Michelle Pfeiffer. Como Pfeiffer não aceitou o filme por ser muito violento, Demme acabou cedendo e deu o papel a Foster após uma reunião onde percebeu nela, uma força e determinação necessários para a personagem de Clarice.
Emma Thompson também foi cotada para o papel de Clarice Starling.
A inspiração para O Silêncio dos Inocentes veio da relação real entre o professor de criminologia da Universidade de Washington, Robert Keppel, e o serial killer Ted Bundy. Bundy ajudou Keppel em sua investigação das mortes em série no Green River em Washington. Enquanto Bundy foi executado em 24 de janeiro de 1989, o caso de Gree River ficou sem solução até 2001 quando Gary Ridway foi preso. Em 5 de novembro de 2003 ele foi considerado culpado por 48 assassinatos em primeiro grau no tribunal de King County, Washington.
Anthony Hopkins estudou várias fitas de serial killers como parte de sua pesquisa para o filme. Após perceber que o famoso maníaco Charles Mason raramente piscava enquanto falava ele deu o mesmo comportamento com Hannibal Lecter.
Na preparação para o seus papéis foram dados a Jodie Foster e Scott Glenn fitas caseiras gravadas pelos serial killers enquanto torturam e matavam as vítimas que eles capturavam. Jodie não quis escutar a gravação, Glenn o fez mas se arrependeu depois dizendo que os sons não conseguiam sair de sua cabeça.
Embora já falida a Orion Pictures conseguiu levantar 200 mil dólares para a campanha promocional do filme para o Oscar.
O primeiro filme a ganhar o Oscar amplamente conhecido por já estar, na época, disponível em vídeo.
A frase do filme "um rapaz do censo tentou me testar uma vez eu comi seu fígado com feijão de fava e um ótimo Chianti (vinho)" foi considerada 21 frase mais popular pelo American Filme Institute.
A mariposa retirada da boca de Bimmils era feita de doce.
Depois de ser escolhido para interpretar o serial killer no filme Ted Levine fez várias pesquisas lendo registros dos serial killers. Levine diria, mais tarde, que achou o material muito pertubador. Ele também saiu às ruas e frequentou alguns bares de travestis e entrevistou alguns clientes já que Bill era um travesti.
Clarice Starling esta na 16ª (50 listados) posição como heroína do cinema (incluido homens e mulheres). Hannibal Lecter encontra-se na 1ª posição do ranking dos vilões da história do cinema entre os 50 listados. A lista foi preparada pelo American Film Institute.
Título original: The Silence of the Lambs.

Gênero: Thriller/Policial/Drama.

Ano: 1991.

País de origem: USA.

Duração: 118 min.

Língua: Inglês.

Cor: Cores.

Diretor: Jonathan Demme.

Elenco: Anthony Hopkins, Jodie Foster, Scott Glenn, Ted Levine, Anthony Heald.

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