REVIEW - A COR PÚRPURA
Temos aqui um daqueles momentos raros de magia poética que o cinema nos proporciona quando se constrói em cima de um roteiro adaptado. O filme é baseado com o romance de mesmo nome e famoso por ter ganho o prêmio Pulitzer. Trata-se aqui de uma daquelas obras singulares reproduzidas para tela de forma monumental. É um filme que expõe questões cruciais num universo preconceituoso (início do século XX e sul dos Estados Unidos) e de dominação. Contando com a direção sensível de Steven Spielberg, A Cor Púrpura é uma novela da vida real e que num tom sutil de denúncia repúdia uma época em que os negros eram equiparados a um objeto. A Cor Púrpura lida com questões da alma e do corpo. O filme fala de aprisionamentos, de valores, de esperança e também de libertação. Inevitavelmenteé um dos filmes eternos que estarão sempre presentes nas listas dos melhores. Quantas vezes você o vê, será esse o número de vezes que se emocionará.
Celie e Nettie são irmãs inseparáveis. Nettie é a mais nova, porém mais destemida e consciente, já Celie é reprimida e servil. Nettie testemunhou o nascimento de seus sobrinhos/irmãos já que Celie foi engravidada pelo próprio pai aos catorze anos de idade. Ameaçadas a não contarem à sua mãe do ocorrido, elas têm apenas uma a outra para desabafarem. Sempre desvalorizada por seu pai por não ser bonita, Celie carrega com um forte complexo de rejeição que vai se intensificando com o tempo, tolhendo sua espontaneadade a ponto de não conseguir mais expressar um sorriso.
Quando Nettie é pedida em casamento por Albert 'Mister', um fazendeiro negro local, o seu pai, de imediato, nega veementemente o pedido e concede a mão de Celie no lugar. A vida de Celie, que já era difícil, entra numa fase mais tenebrosa ainda. O seu papel de esposa é, na verdade, de empregada de seu próprio marido que a trata como um animal de carga. Para não ser espancada ela submete-se a trabalhos penosos, embora que uma surra sempre lhe aguarda independentemente do que faça. A grande tragédia da vida de Celie acontece quando Nettie, após abandonar seu pai que também começou a lhe assediar, vem morar com ela e com Albert e este a expulsa de casa por ela negar-se a ter relações com ele. Sob muitas lágrimas e numa das cenas mais fortes, visualmente falando, a da despedida, as irmãs juram uma para outra que nada irá separa-las.
O maior alento de Celie é quando se torna amiga da cantora Shug Avery (Margaret Avery), amante de Albert, despertando nas duas um sentimento de amor e carinho que leva, com muita leveza, a nos sugerir um envolvimento lésbico entre as duas personagens. Shug é peça fundamental que poderá levar à Celie se reconhecer como dententora de sua beleza particular, elevando sua auto-estima.
A Cor Púrpura é uma novela, mas não um dramalhão. Ela engloba o cotidiano, muitas vezes inevitável e fatídico, não apenas dos protagonistas principais, mas também de todo o elenco de apoio que circunda Celie. Sofia, que é magistralmente interpretada por Oprah Winfrey, é talvez a personagem mais interessante do filme. Ela traz consigo um somatório de todas as dificuldades enfrentadas quando se é negro, mulher e pobre. Nesta condição de semi-indigência até o 'vilão' Albert não age por maldade nata, ele é apenas o reflexo de uma educação patriarcal, machista, opressora e de dominação branca sob a qual foi criado. Seu comportamento bruto é apenas uma tentativa de construir sua vida da forma 'infalível' como lhe foi ensinado.
A cantora musa de Celie e Albert, Shug Avrey, é outra personagem que procura a sua libertação através da reconciliação com seu pai já que o mesmo a ignora devido ao comportamento 'vanguardista' de sua filha.
Todos confinados em suas amarras, escapar delas ou pelo menos conviver da melhor forma é só o que se quer. Chegar nesse estágio já é um triunfo. Neste percurso glorioso, o expectador é apenas cúmplice de um sofrimento que incrivelmente, mesmo atenuado, ainda inflige sofrimentos nos dias de hoje.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood indicou o filme a 11 Oscars, contudo o filme não ganhou nenhum dos quais concorreu. O filme que recebeu a estatueta como a mulher produção na época (1986) foi Entre Dois Amores que, embora seja um bom trabalho de Sydney Pollack, é muito menos conhecido e, com todo o respeito, superficial do que A Cor Púrpura.
Notas:
Os produtores Steven Spielberg e Kathleen Kennedy escolheram Margaret Avery depois que Tina Turner o recusou.
O primeiro filme de Spielberg que não teve trilha sonora de John Williams.
O primeiro filme de Oprah Winfrey.
Igualou-se em recorde ao filme Momento de Decisão (1977) como sendo a produção que mais foi indicada ao Oscar (11) sem ter recebido um prêmio sequer.
Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey receberam suas primeiras indicações ao Oscar em A Cor Púrpura, sendo este o primeiro filme de suas carreiras.
Steven Spielberg expulsou os produtores Peter Guber e Jon Peters dos sets de filmagem devido aos seus históricos de oferecerem 'sugestões' durante a produção.
As cenas da cidade no filme, foram feitas em Marshville na Carolina do Norte. Um poste elétrico não pode ser retirado no meio da rua, sendo assim a produção resolveu por uma árvore escondendo-o.
As filmagens na 'cidade' tinham que ser interrompidas com freqüência, pois ao lado existia uma linha férrea onde passavam trens de carga.
A autora Alice Walker não estava satisfeita com a indicação de Spielberg para a direção do filme, contudo estava confiante na atuação de Whoopi Goldberg, pois já tinha visto suas performances de múltiplos caracteres nos shows de comédia ao vivo que a mesma apresentava na região de São Francisco.
Oprah Winfrey estava num spa para emagrecimento quando soube que fora escolhida para o papel de Sofia. Ela teve que deixar o spa imediatamente já que o papel exigia que ela fosse gorda.
Uma adaptação para peça de Alice Walker estava sendo planejada já há tanto tempo que para as audições o filme recebia o nome de 'Canção da Lua'.
A Cor Púrpura causou um dos momentos mais constrangedores da história do Oscar quando recebeu onze indicações e que não estava inclusa a de Spielberg como a de melhor diretor. No fim o filme não recebeu nenhuma estatueta sequer.
Patti LaBelle foi audicionada para o papel de Shug Avery.
O bebê de Steven Spielberg nasceu durante as filmagens e na cena em que Celie dá a luz a um bebê o som de seu choro é o som do filho recém-nascido de Spielberg.
Celie e Nettie são irmãs inseparáveis. Nettie é a mais nova, porém mais destemida e consciente, já Celie é reprimida e servil. Nettie testemunhou o nascimento de seus sobrinhos/irmãos já que Celie foi engravidada pelo próprio pai aos catorze anos de idade. Ameaçadas a não contarem à sua mãe do ocorrido, elas têm apenas uma a outra para desabafarem. Sempre desvalorizada por seu pai por não ser bonita, Celie carrega com um forte complexo de rejeição que vai se intensificando com o tempo, tolhendo sua espontaneadade a ponto de não conseguir mais expressar um sorriso.
Quando Nettie é pedida em casamento por Albert 'Mister', um fazendeiro negro local, o seu pai, de imediato, nega veementemente o pedido e concede a mão de Celie no lugar. A vida de Celie, que já era difícil, entra numa fase mais tenebrosa ainda. O seu papel de esposa é, na verdade, de empregada de seu próprio marido que a trata como um animal de carga. Para não ser espancada ela submete-se a trabalhos penosos, embora que uma surra sempre lhe aguarda independentemente do que faça. A grande tragédia da vida de Celie acontece quando Nettie, após abandonar seu pai que também começou a lhe assediar, vem morar com ela e com Albert e este a expulsa de casa por ela negar-se a ter relações com ele. Sob muitas lágrimas e numa das cenas mais fortes, visualmente falando, a da despedida, as irmãs juram uma para outra que nada irá separa-las.
O maior alento de Celie é quando se torna amiga da cantora Shug Avery (Margaret Avery), amante de Albert, despertando nas duas um sentimento de amor e carinho que leva, com muita leveza, a nos sugerir um envolvimento lésbico entre as duas personagens. Shug é peça fundamental que poderá levar à Celie se reconhecer como dententora de sua beleza particular, elevando sua auto-estima.
A Cor Púrpura é uma novela, mas não um dramalhão. Ela engloba o cotidiano, muitas vezes inevitável e fatídico, não apenas dos protagonistas principais, mas também de todo o elenco de apoio que circunda Celie. Sofia, que é magistralmente interpretada por Oprah Winfrey, é talvez a personagem mais interessante do filme. Ela traz consigo um somatório de todas as dificuldades enfrentadas quando se é negro, mulher e pobre. Nesta condição de semi-indigência até o 'vilão' Albert não age por maldade nata, ele é apenas o reflexo de uma educação patriarcal, machista, opressora e de dominação branca sob a qual foi criado. Seu comportamento bruto é apenas uma tentativa de construir sua vida da forma 'infalível' como lhe foi ensinado.
A cantora musa de Celie e Albert, Shug Avrey, é outra personagem que procura a sua libertação através da reconciliação com seu pai já que o mesmo a ignora devido ao comportamento 'vanguardista' de sua filha.
Todos confinados em suas amarras, escapar delas ou pelo menos conviver da melhor forma é só o que se quer. Chegar nesse estágio já é um triunfo. Neste percurso glorioso, o expectador é apenas cúmplice de um sofrimento que incrivelmente, mesmo atenuado, ainda inflige sofrimentos nos dias de hoje.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood indicou o filme a 11 Oscars, contudo o filme não ganhou nenhum dos quais concorreu. O filme que recebeu a estatueta como a mulher produção na época (1986) foi Entre Dois Amores que, embora seja um bom trabalho de Sydney Pollack, é muito menos conhecido e, com todo o respeito, superficial do que A Cor Púrpura.
Notas:
Os produtores Steven Spielberg e Kathleen Kennedy escolheram Margaret Avery depois que Tina Turner o recusou.
O primeiro filme de Spielberg que não teve trilha sonora de John Williams.
O primeiro filme de Oprah Winfrey.
Igualou-se em recorde ao filme Momento de Decisão (1977) como sendo a produção que mais foi indicada ao Oscar (11) sem ter recebido um prêmio sequer.
Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey receberam suas primeiras indicações ao Oscar em A Cor Púrpura, sendo este o primeiro filme de suas carreiras.
Steven Spielberg expulsou os produtores Peter Guber e Jon Peters dos sets de filmagem devido aos seus históricos de oferecerem 'sugestões' durante a produção.
As cenas da cidade no filme, foram feitas em Marshville na Carolina do Norte. Um poste elétrico não pode ser retirado no meio da rua, sendo assim a produção resolveu por uma árvore escondendo-o.
As filmagens na 'cidade' tinham que ser interrompidas com freqüência, pois ao lado existia uma linha férrea onde passavam trens de carga.
A autora Alice Walker não estava satisfeita com a indicação de Spielberg para a direção do filme, contudo estava confiante na atuação de Whoopi Goldberg, pois já tinha visto suas performances de múltiplos caracteres nos shows de comédia ao vivo que a mesma apresentava na região de São Francisco.
Oprah Winfrey estava num spa para emagrecimento quando soube que fora escolhida para o papel de Sofia. Ela teve que deixar o spa imediatamente já que o papel exigia que ela fosse gorda.
Uma adaptação para peça de Alice Walker estava sendo planejada já há tanto tempo que para as audições o filme recebia o nome de 'Canção da Lua'.
A Cor Púrpura causou um dos momentos mais constrangedores da história do Oscar quando recebeu onze indicações e que não estava inclusa a de Spielberg como a de melhor diretor. No fim o filme não recebeu nenhuma estatueta sequer.
Patti LaBelle foi audicionada para o papel de Shug Avery.
O bebê de Steven Spielberg nasceu durante as filmagens e na cena em que Celie dá a luz a um bebê o som de seu choro é o som do filho recém-nascido de Spielberg.
Título Original: The Purple Color.
Gênero: Drama.
Ano: 1985.
País de Origem: EUA.
Duração: 154 min.
Língua: Inglês.
Cor: Colorido.
Diretor: Steven Spielberg.
Elenco: Whoopi Goldberg, Danny Glover, Oprah Winfrey, Margaret Avery, Willard E. Pugh, Akosua Busia, Desreta Jackson, Adolph Caesar, Rae Down Chong.
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