REVIEW - LIMITE
As imagens sem som de Mário Peixoto são curiosas desde o começo. O que parece ser um esboço confuso de relações entre pessoas conhecidas dentro de um barco à deriva em algum ponto da costa brasileira se aprofunda no existencialismo. As personagens (sem nomes, apenas homem e muher 1 e mulher 2) vão recordando-se dos momentos anteriores antes de estarem em apuros no meio do oceano. Sem alternativa, a não ser a utilizaçaõ da consciência, eles vão evidenciado, através de reflexões, seus dramas particulares. O clímax, pode-se se dizer constante, vai tomando ares claustrofóbicos até chegar ao limite da angústia, da apreensão, da expectativa e dos desejos.
Limite é também o nome deste filme clássico, único "filho" em celulóide deixado por Mário Peixoto. Devido à falta de preservação da obra ele quase que se perde totalmente. Rodado com recursos escassos, e isto é notório, o que distingue Limite é a ousadia na criação das imagens belíssimas utilizando movimento de câmeras como closes, enquadramento e nuances de forma inédita do que se tinha visto no país até entãol. A fotografia e a estética de sua linguagem, utilizado pelo jovem cineasta na época, foi inovadora no Brasil. O reconhecimento só chegou muitos anos após sua primeira exibição e consagrou Limite como um marco absoluto, um verdadeiro monumento da cinematografia brasileira. De fato, pela técnica empregada (num período em que o cinema brasileiro ainda engatinhava), o seu valor histórico é indiscutível. É impossível não imergir nos dramas, por vezes incompreendidos, mas sempre percebidos pelo espectador graças, também, a edição definida por Peixoto. Utilizando uma noção de tempo bidimensional acusado por imagens fragmentadas, o diretor consegue impor ao filme um efeito de reflexão que consegue ser hipnótico. Para se aprofundar no significado de Limite e torná-lo mais visceral e belo ainda é obrigatório se assistir mais de uma vez. Isto porque ele é constituído de detalhes que compreendem desde da sua trilha sonora às relações das emoções e sua analogia com a natureza contemplativa. Utilizando-se dessas metáforas Mário Peixoto vai traçando um paralelo visualmente incomum em sua época e até nos dias de hoje. Este foi um dos motivos que geraram a incompreensão do seu trabalho pelos críticos do período.
Limite é a relação do homem tomado literalmente pelas várias perspectivas e ângulos de câmera com o objetivo de materializar a abstração dos sentimentos em cenas fantásticas. As imagens poderão desaparecer para sempre caso não haja um trabalho de restauração definitivo, mas a genialidade pioneira do diretor-roteirista Mário Peixoto permanecerão indeléveis na memória de todos que testemunharam o seu maior legado de sensibilidade.
Notas:
Conhecido como autor de um único, porem mitológico, longa-metragem.
Chegou a começar a dirigir um segundo filme, "Onde a Terra Acaba", porém por divergências com a atriz e produtora Carmem Santos não o conclui, sendo substituido por Octávio Gabus Mendes.
Um documentário sobre a sua vida foi aos cinemas em 2001, tambem com o titulo de "Onde a Terra Acaba".
Diz a lenda que o seu filme "Limite" foi visto em Paris por Serguei Eisenstein, que teria homenageado-o com um longo artigo na revista "Tapler".
Título Original: Limite.
Gênero: Drama.
Ano: 1931.
País de Produção: Brasil.
Duração: 120 min.
Língua: Português.
Cor: Preto e Branco.
Diretor: Mário Peixoto.
Elenco: Olga Breno, Raul Schnoor, Tatiana Rey, Brutus Pedreira.
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