Monday, August 07, 2006

REVIEW - ZUZU ANGEL


Em um dos melhores filmes do ano, a ditadura militar brasileira é, mais uma vez, rechaçada sem a menor piedade. Não podia ser diferente, já que piedade era uma palavra desconhecida pelos oficiais da época quando a questão era manter o regime opressivo a todo custo, eliminando o estado de direito e ignorando a Convenção de Genebra. Como resistir a uma política que institui a censura e caça qualquer tipo de ato que contrarie as leis outorgadas pela força que se encontra no poder? E como poderia ser diferente quando o cidadão comum tem como inimigo as forças armadas do seu próprio país ? Como pode uma instituição criada pelo povo, e para o povo, se tornar o algoz das próprias pessoas que deveriam proteger e não transformar-se em seus agressores? Pondo o dedo numa ferida que, por ser recente, está longe de cicatrizar, Zuzu Angel é um espetáculo de roteiro e direção. Narrado de uma forma que mescla poesia cinematográfica com uma forte denúncia documentada, já que se trata de uma biografia baseada em fatos reais.
Tendo Patrícia Pilar como a interprete da própria Zuzu Angel e Daniel de Oliveira como o filho Stuart, o filme tem uma força de manifesto incontestável sem com isso perder seu interesse como obra de entretenimento.
No início da década de setenta, quando o regime instaurado após o golpe de estado de 1964 encontrava-se em sua fase mais nefasta, a estilista Zuzu Angel deslanchava como uma das maiores estilistas do país alcançando reconhecimento internacional e exportando sua moda para diversos países. Neste mesmo período, seu filho Stuart, de pai norte-americano e nascido nos Estados Unidos, fora sequestrado pela polícia militar devido à sua participação em atividades consideradas subversivas e desde então não se teve mais notícias sobre o seu paradeiro.
Determinada a descobrir a verdade sobre o que aconteceu com o seu filho, ou mesmo se ele ainda se encontra com vida, Zuzu inicia uma busca que levará a verdades que serão pagas com a sua própria vida.
Retrata-se aqui o drama vivenciado não apenas pela figura de renome do cenário da moda, mas também de várias outras mães que atravessaram esse mesmo drama. E a carga dramática é exatamente como ela diz num determinado momento do filme "quero ter o direito de enterrar o meu próprio filho".
O filme tem sua narrativa estruturada em flashbacks necessários quando Zuzu recorda-se de Stuart, montando-se, para a platéia, o panorama da relação que eles estabelecem como mãe e filho desde a sua infância. Fatos do presente completados com explicações do passado foi uma técnica hábil utilizada pelo diretor, pois manteve o expectador ligado a trama e a espera sempre de novas revelações. Sem dúvida esta idéia colaborou para transformar o filme numa pequena obra prima conseguindo um apelo comercial sem abrir mão da sua identidade artística.
O único ponto negativo a se destacar talvez seja o excesso de clichês utilizados para a montagem do cenário de terror e de situações da época. Talvez essa seja a única fallha desta película, mas que não é suficiente para retirar o seu brilho.

Notas:
Este é o 5º filme em que o diretor Sérgio Rezende e o ator Paulo Betti trabalham juntos. Os demais foram Doida Demais (1989), Lamarca (1994), Guerra de Canudos (1997) e Mauá - O Imperador e o Rei (1999).
Este é o 2º filme em
que Luana Piovani e Leandra Leal atuam juntas. O anterior foi O Homem que Copiava (2003).
Walter Salles foi o primeiro diretor a se interessar por filmar a história da estilista Zuzu Angel.
Hildergard Angel, filha de Zuzu Angel, recebeu alguns convites para contar a história de sua mãe nas telas. Ela chegou a assinar um contrato para a realização de um curta de 40 minutos, que seria dirigido por Roberto Gervitz, mas não foi realizado.
A história de vida de Zuzu Angel já foi tema de escola de samba no Rio de Janeiro, já foi balé, show, desfiles de moda, já inspirou coleções de moda de outros estilistas.
Zuzu é nome de creches, escolas, centros acadêmicos, de cidade e ruas mineiras, de túnel no Rio de Janeiro, de centros de proteção às mulheres, entre outros. o nome de seu filho desaparecido Stuart é nome de praça no Rio de Janeiro, de rua em Minas, de centros acadêmicos, inclusive na UFRJ e Praia Vermelha.Tem também um prêmio da UNE com o nome de Stuart.
O veterano ator Nelson Dantas que teve uma participação nesse filme, faleceu esse ano.
Zuzu Angel, com roteiro do próprio Rezende junto a Marcos Bernstein (O Outro Lado da Rua), está orçado em R$ 5,5 milhões.
Patrícia Pilar, que atua como Zuzu, conta que, desde o começo do projeto, o que mais lhe fascinou na personagem foi sua coragem: “Quando o filho dela ingressou no movimento estudantil, ela acreditava que aquela luta era uma besteira”, explica a atriz. “Quando ele sai de casa ela começa a ter uma visão mais aprofundada do que Stuart acreditava e essa transformação é muito bonita”, completa. “Essa coragem que vem do coração me conquistou.
O roteiro, escrito a quatro mãos durante oito meses, teve ajuda das herdeiras de Zuzu, Hildegard e Ana, para ser construído. Rezende deixa claro que, mais do que serem fiéis aos fatos, os roteiristas tiveram em mente o espírito da protagonista. “Criamos situações não tão fiéis com a realidade, mas que expressavam o espírito da personagem, como mentiras sinceras”, conta o diretor. Desde as primeiras versões, as duas filhas de Zuzu sempre tiveram acesso ao roteiro.







Título original: Zuzu Angel.

Gênero: Drama.

Ano: 2006.

País de origem: Brasil.

Duração: 110 min.

Língua: Português / Inglês.

Cor: Colorido.

Diretor: Sérgio Rezende.

Elenco: Patrícia Pilar, Daniel de Oliveira, Leandra Leal, Alexandre Borges, Ângela Leal, Ângela Vieira, Luana Piovanni, Regiane Alves, Fernanda de Freitas, Aramis Trindade, Caio Junqueiro, Antônio Pitanga, Othon Bastos, Nélson Dantas, Flávio Bauraqui.

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