Saturday, May 03, 2008

REVIEW - LITTLE LORD FAUNTLEROY

Antes de iniciar o comentário sobre o filme Little Lord Fauntleroy, sinto-me compelido a dar um breve histórico de uma das pessoas que mais estabeleceram diretrizes para o cinema comercial que conhecemos hoje: Mary Pickford.
Mary Pickford é um caso único na história do cinema mundial. Numa área dominada pelos homens ela estabeleceu seu pionerismo não apenas como a primeira atriz a fazer sucesso e a ser reconhecida internacionalmente. Ela, também foi, no auge de sua carreira, a primeira mulher a ter controle sobre a produção e distribuição de seus filmes. Com uma visão empresarial aguçada, Pickford quebrou barreiras e se tornou dona de um estúdio, a United Artists, numa sociedade que incluia seu marido Douglas Fairbanks, Charles Chaplin e D. W. Griffith. Por conta de sua iniciativa foi criada a Academia de Artes e Ciências Ciências Cinematográficas de Hollywood e o subseqüente prêmio Oscar que se tornaria o maior reconhecimento comercial de uma produção em cada um de seu aspecto artístico.
O início do empreendedorismo de Mary Pickford se deu, de início, dentro das telas. Consciente de seu carisma e da popularidade que tinha junto ao público que ia ao cinema assistir a jovem de cabelos cacheados, ela passou a exigir junto aos estúdios melhores salários compatíveis com seu apelo comercial. Não demorou muito para Mary Pickford ser aclamada como a "American Sweetheart" ou seja a "Queridinha da América" graças ao seu carisma. As personagens escolhidas por Mary Pickford acabaram por lhe criar um esteriótipo de boa moça. Sua suavidade e meiguice ao interpretar de forma espontânea meninas altruistas, ingênuas e de bom coração que sempre buscavam a felicidade lutando contra toda a má sorte da vida, transformaram-na em um lenda da sétima arte. No início do cinema, em seus primeiros filmes, os atores eram considerados apenas peças secundárias. A referência eram os nomes dos estúdios que faziam os filmes. Mary Pickford no início de carreira, por exemplo, era conhecida como a menina de cachos dourados da Biograph. As suas exigência acabaram levando auto-afirmação á classe dos atores que passaram a ser considerados os bem mais valiosos para os estúdios alcançando o patamar de estrelas e dando origem ao que ficaria conhecido como o "star system" dos estúdios. É de Mary Pickford a célebre frase que resume a nova era em Hollywood: "Para se ter bons atores devemos pagá-los bem e mantê-los sob contrato". A partir deste instante os astros e estrelas da tela prateada teriam seus nomes expostos com destaque nos créditos iniciais de abertura dos filmes.
Em Little Lord Fauntleroy ( segunda versão levada ao cinema, as outras foram de 1914, 1936 e 1980) Mary Pickford assume o papel duplo do jovem herdeiro do título de conde e de sua mãe. Explorando as características de interpretação que lhe tornaram referência
de pureza e amabilidade, Pickford consegue surpreender tanto quando faz a resignada e humilde mãe solteira - carinhosamente chamada pelo seu filho de 'Dearest' (querida) como quando faz o inquieto e cativante Cedric. A história trata do reconhecimento do filho ilegítimo de seu filho morto, pelo Conde de Dorincourt, que vê ameaçada a sua descendência por não haver mais descendentes. Sabendo que seu falecido filho deixara nos Estados Unidos um herdeiro fruto de uma relação não-conjugal ele manda trazê-lo para a Inglaterra com o propósito de prepará-lo para ser o seu sucessor. Embora, a princípio, rejeite a idéia de ter que aceitar um neto desconhecido e uma mulher o qual despreza e considera desonrada, a aproximação entre avô e neto é inevitável e o pequeno Cedric começa a operar mudanças no coração embrutecido do Conde. . e A interpretação do cinema mudo exigia um leque de expressões indicativas e mímicas intensas para dar força ao que o ator queria representar. Frequentemente, contudo, a performance era exagerada e o ator tornava-se mais anti-natural do que já se exigia pela falta de som. Mary Pickford, contudo, consegue passar ao público com menos maneirismos e pantomimas, apelos distintos vindo das personagens com simples olhares e gestos simbólicos. O elenco de apoio formado na sua grande maioria de experientes atores e atrizes do teatro de Nova Iorque e do cinema nascente como Claude Gillingwater que faz o papel do Conde de Dorincourt e Kate Price como a senhora McGinty tornam o filme ainda mais interessante. Produzido de forma suntuosa e com uma fotografia de primeira linha feita pelo mítico Charles Rosher (Scaramouche, Pollyanna, Kismet). Little Lord Fauntleroy é um bom exemplo do cinema mudo de qualidade feito em uma Hollywood nostálgica que enfeitiçava as platéias do mundo no início do século XX e que mantém sua aura translúcida até hoje.
Notas:
O seu irmão, Jack Pickford foi creditado como um dos diretores do filme. Ele faleceria em 1933 por falência renal causada pelo anos de alcolismo.
Na cena em que Cedric reencontra a sua mãe (ambos papéis protagonizados por Pickford), a cena da troca de beijos na bochecha levou 15 horas para ser concluido para uma edição de apenas 3 segundos que é visto no filme. Isso se deveu a complexidade das múltiplas exposições de câmera que foram necessárias para dar realismo à cena. Para garantir estabilidade entre as várias tomadas feitas, o cinegrafista Charles Rosher aumentou o peso da câmera que operava as cenas para quase uma tonelada.
Título Original: Little Lord Fauntleroy.

Ano: 1921.

País de Origem: EUA.

Duração: 112 min.

Língua (Subtítulos): Inglês.

Cor: Preto e Branco.

Diretor: Alfred E. Green / Jack Pickford.

Elenco: Mary Pickford, Claude Gillingwater, Joseph J. Dowling, James A. Marcus, Kate Price, Fred Malatesta, Rose Dione.


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